Uma das grandes virtudes da democracia é a alternância dos titulares dos cargos. E tal característica é particularmente importante para os titulares de cargos políticos e sobretudo os públicos, quer de cariz nacional, quer de cariz regional ou local.
Ao contrário do que por vezes transparece, os cargos políticos públicos não deveriam ser encarados como um emprego, mas antes como a prestação de um serviço quase desinteressado. E muito menos deveriam ser utilizados como um trampolim para servir interesses pessoais.
O factor motivacional mais importante pelo qual os candidatos a titulares de cargos públicos se sentem movidos a desempenhar os mesmos é (deveria ser) o de servir os cidadãos e a causa pública.
É sabido que a motivação é algo intrínseco ao ser humano, não sendo medível directamente, antes detectável pelos desempenhos, atitudes tomadas e sensibilidades evidenciadas pelos indivíduos. No caso dos titulares de cargos políticos essa motivação exterioriza-se pela sensibilidade aos problemas das populações, vontade na sua efectiva resolução, envolvendo-se com os cidadãos e resolvendo os seus problemas.
Constatamos, apercebemo-nos, ou sentimos que para uma parte significativa das pessoas que ocupam tais lugares, a aplicação desses princípios (audição, envolvimento e entrega desinteressada) são essencialmente válidos no início ou no primeiro mandato. Com o andar do tempo e salvo honrosas excepções, essa atitude e alguma humildade iniciais esmorecem, começando a notar-se um gradual afastamento de quem neles confiou com o seu voto.
Não digo que a grande maioria não continue a trabalhar muito, mas o direccionamento prioritário do seu pensamento e sobretudo a subjacente acção, transparece de outra forma e vão em outro sentido. Em face do seu comportamento somos forçados a concluir que aquilo que os motiva prioritariamente deixou de ser o servir as populações e a causa pública. Os factores que motivam agora a sua actuação passaram a ser, eventualmente, mais interesses de ascensão e posicionamentos pessoais (políticos e profissionais). Tal alteração evidencia-se na falta de tempo para ouvir as pessoas, ou quando ouvem, fica-nos a sensação que o fazem por imperativo e não por dedicação. Estão sempre muito ocupados com assuntos muito importantes. Dizem-nos que são assuntos cuja concretização ou resolução beneficiarão, directa ou indirectamente, mais tarde as pessoas. Acreditamos que sim, mas por vezes, a resolução de “pequenos” problemas arrastam-se anos. Porque é que inicialmente tinham tempo e depois deixaram de ter? Passaram a ter outro estatuto?
Isto para além de vícios e desvios mais ou menos evidentes e graves, dos quais existem muitos exemplos do conhecimento público. Diga-se em abono da verdade, porém, que alguns desses anunciados desvios nem sempre têm a conotação negativa ou ilegal que lhe pretendem dar.
O ser humano, com naturais diferenças de pessoa para pessoa, tem fraquezas que certas circunstâncias ou envolventes podem favorecer mais o seu aparecimento. Vacila, esmorece, acomoda-se, cria afinidades problemáticas e é influenciável. O tempo modela estas facetas, por isso, é fundamental que o regime democrático em que vivemos se acautele e assente as suas bases numa razoável alternância de poder, sobretudo no caso dos titulares de cargos políticos públicos. E essas alternativas democráticas não se esgotam nos partidos políticos. Embora eles sejam fundamentais.
No início dos mandatos, os eleitos vêm sempre com mais vitalidade física e nas ideias, mais abertas a ouvir as pessoas e sobretudo com muita vontade de resolver os seus problemas.
Sabemos que existem outros factores que podem influenciar a motivação e eficácia das equipas de que temos estado a escrever, nomeadamente a sua homogeneidade política e a capacidade dos seus elementos, as relações de/com o poder, as verbas, os métodos de gestão, etc., etc. No entanto, reafirmamos que é salutar o processo de alternância democrática e se possível reforçado.
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